terça-feira, 20 de março de 2012

UM PASSEIO NAS NUVENS


Sentada no baloiço do jardim, Madalena olhava o céu azul e pensava como seria bom ter asas e poder voar como os pássaros que ora poisavam nos ramos da macieira, ora esvoaçavam descuidados de árvore em árvore, de galho em galho…e, quando cansados das brincadeiras a baixa altura, também subiam bem alto, voando, voando, voando… até onde o céu os levasse. Mas hoje este pensamento tornara-se tão forte que, sem sequer se ter dado conta de como embarcou nessa viagem, Madalena voava! Não, ela não tinha asas, mas aquela nuvem tão branca, tão feita de rama fofa de algodão…, aquela nuvem que, ao ouvir os seus pensamentos, ao refletir sobre os seus mais íntimos desejos, desceu devagarinho, pairando quase sobre a sua cabeça e…, zás!, ainda mal tinha pensado em convidar Madalena para um passeio nas alturas, já esta menina de olhos sonhadores e de alma ansiosa de aventuras, estava dentro dela, melhor dizendo, estava sentada nela. E, sem falar, falaram uma com a outra, sem que a nuvem perdesse o seu rumo e sem que Madalena saísse do baloiço, elas percorreram o céu, pairaram sobre o mar, sobre as montanhas… e Madalena voou como os melros e os pardais do seu jardim.
Sem receio de cair, sem medo das alturas, Madalena saltava de nuvem em nuvem, afundando-se e elevando-se como se estivesse num colchão de água, feliz, livre, completamente liberta de obrigações, ou de outra coisa que não fosse desfrutar desse estado maravilhoso de brincar no céu, bem lá acima da Terra… Completamente liberta, pensava ela, mas, mal tinha ainda aberto a boca para proferir “os votos de total liberdade”, quando, à sua frente, segurando as cordas do baloiço, a mãe a despertou com um doce afago na nuca:
- Então, menina?! O baloiço não é lugar para dormir. Olha que, se eu não tivesse passado por aqui poderias ter caído e ter-te magoado.
- Mas eu não estava a dormir, mãe! Estava…
E logo se calou porque já não estava nem dentro, nem em cima, nem em parte alguma lá por onde as nuvens passeiam. Calou-se e uma lágrima solitária se soltou, indo perder-se algures no seu rosto… era a lágrima da saudade, embora ela nunca tenha sabido bem de que saudade se tratava, mas era a lágrima da saudade, disso ela tinha e sempre teve a certeza.
- Então, Lenita, estavas a sonhar?
- Não sei, parece que não, mas decerto estava… Passeava e brincava nas nuvens, era tão bom, mãe, tão bom! E agora estou triste…, já não vejo a nuvem, já não lhe posso dizer adeus nem obrigada…
- Pois, filha, mas não te preocupes, outras nuvens aparecerão nos teus sonhos e levar-te-ão a passear, agora vem para casa que está a arrefecer.
- Só que… mãe, eu não tenho a certeza de ter estado a sonhar, não sei como te dizer, mas parece que ainda sinto o macio, a frescura e as carícias das nuvens…, parece mesmo que andei no céu em cima delas.
- Pronto, está bem, fica lá com as tuas fantasias, mas agora estás em terra, aqui no jardim, pronta para entrar em casa.

Sem comentários:

Enviar um comentário