quinta-feira, 28 de junho de 2012

LUA ESCONDIDA




Era já noite alta, melhor, era já madrugada a despontar e a Lua (que, como todos sabem, dorme de dia e fica acordada de noite) não queria dar lugar ao Sol, que já começava a acordar. Ela bem o viu a bocejar, a espreguiçar-se, a pedir um pouco de água à Nuvem que passava perto para poder lavar a cara, mas mesmo assim a Lua não queria ir dormir. Ela queria saber se a Terra acolhia o Sol da mesma maneira que a ela e às Estrelas. Não que tivesse alguma reclamação ou algum reparo a fazer, mas concerteza que dormir de dia e acordar de noite deveria ser diferente de dormir de noite e acordar de dia, assim pensava ela.
Ainda estava nestes pensamentos quando o Sol acordou de vez. E, ao vê-la ainda de pé, fresca e airosa, perguntou:
- Que estás a fazer ainda aqui? A noite é tua, mas o dia é meu.
- Pois, mas é que eu estou um pouco curiosa... e até nem tenho grande sono, acho que estou a ficar com insónias...
- Deixa-te de coisas! Insónias, tu? E porque havias de ter insónias logo agora que estiveste toda a noite completamente desperta, de rosto bem redondo e sorridente, o teu rosto de "Lua Cheia"? Trabalhaste tanto para que me refletisse totalmente através de ti e dizes que tens insónias?!... Vai mas é dormir, "que o teu mal é sono!"
- Não fales assim comigo. É verdade o que te digo. Talvez a minha insónia se deva à curiosidade de saber como é que as pessoas na Terra te acolhem quando acordas, se ficam a olhar cá para cima como fazem comigo, principalmente quando, como agora, estou em fase de Lua Cheia... Posso ficar só um bocadinho para ver?
- Claro que podes, o firmamento (ou o céu, como muitas pessoas lhe chamam) tem lugar de sobra para nós e muitos mais astros, sem que nos atropelemos uns aos outros. Se te dá prazer, por mim podes ficar.
- Obrigada, Sol! Eu estava com algum receio da tua reação, mas afinal és muito mais acessível do que eu pensava.
- Estavas com receio de mim? Porquê?
- Ora, porque tu és grande, muito grande, tens luz própria, não precisas, como eu, de outro astro que te ilumine... Sendo tu o Astro-Rei, pensei que serias..., como hei de dizer..., serias... muito arrogante e que não falarias com astros de condição inferior. Por isso eu estava a esconder-me atrás da Nuvem onde foste lavar a cara.
- Ora, ora, ora... é verdade que sou o Astro-Rei deste Universo, mas sou tão importante como qualquer outro astro, embora nem todos pensem desta maneira. Tudo foi criado com um propósito, todas as coisas, todos os seres, tudo tem uma missão própria, uma função a desempenhar, sempre coordenadas.É por isso que eu durmo de noite e tu não, por exemplo.
- Então... se eu não for dormir agora poderei causar algum problema aos outros astros, às pessoas, à Terra?
- Penso que, se descansares o suficiente para te aguentares desperta o necessário durante as noites, de que tu és Rainha, não haverá problema em ficares um bocadinho a observar o dia.
E assim a Lua resolveu ficar algum tempo a observar.
Com espanto, além da curiosidade, viu que grande parte das pessoas, animais e plantas começavam a despertar, como se fossem impulsionados ou, de certa maneira, revigorados a partir do aparecimento dos primeiros raios de Sol. Viu ainda que, da mesma forma que faziam quando ela, Lua, estava acordada (na sua hora de estar desperta) olhavam o céu com alegria e gratidão. E pôde também verificar que aqueles (plantas e animais) que trabalharam de noite se preparavam para dormir durante o dia. Realmente o Sol tinha razão, tudo tem um propósito, para haver equilíbrio a vida desenrola-se conjugando, coordenando e alternando ciclos. Nem todos podem trabalhar ao mesmo tempo, nem dormir ao mesmo tempo. E pensando nisto começou a sentir que deveria então dormir, estava já a ficar um tanto ou quanto sonolenta e cansada.
Foi dormir para retemperar energias, pois teria que estar bem acordada quando o Sol se fosse deitar.
À noite acordou alegre, embora um pouquinho menos cheia, mas feliz. Os seres da Terra que estavam a acordar diziam-lhe "Bom dia"! Os que iam descansar diziam-lhe "Boa noite"!
E a Rainha da noite sente-se tão grata por saber como ela e o Sol são acolhidos na Terra que ainda agora, muitas vezes, a vemos no firmamento durante o dia.

De Maria La-Salete Sá

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