Deus deu-me asas para poder voar.
Olhei-as bem, abri-as...
Assustada tentei um voo curto.
Não quero partir minhas asas
(como se estas asas fossem minhas!).
Detenho-me de novo nelas,
nas cores do arco-íris de que são feitas,
absorvo toda esta beleza e quero projetá-la no espaço infinito...
E nasce o medo, o pavor.
O medo de não saber voar, o medo de as partir...
Então Deus ordena-me que voe,
para isso e por isso é que tenho asas...
Continua o medo. Cada vez mais medo...
Quantos sonhos terei que abandonar,
quantos mundos para deixar,
quantas ilusões a perder...?
Arrisco um outro voo, um bocadinho mais longo
e um som intenso penetra-me os ouvidos,
um brilho de luz ofusca-me os sentidos...
Miríades de pássaros multicores
cortam o universo a meu lado,
e mesmo assim tenho medo.
Desta vez Deus deu-me um arco e milhares de flechas.
Não me disse para quê.
mas ouvi o meu grito angustiado
a dar-me a resposta.
Tenho que voar, continuar a voar,
lutar comigo, destruir-me,
- eu que sou Arjuna no campo de batalha -
Agora começo a compreender,
a ver que o meu medo
foi (talvez seja ainda) o medo de todos esses pássaros,
de todos esses Arjunas
que comigo cortam os céus.
Agora compreendo
porque é que Deus me deu asas.
De Maria La-Salete Sá (Seminário de yoga- tema Bhagavad Gita, Junho
de 1991)
Sem comentários:
Enviar um comentário