terça-feira, 17 de dezembro de 2013

ARJUNA E SEUS/MEUS MEDOS


 

 

Deus deu-me asas para poder voar.

Olhei-as bem, abri-as...

Assustada tentei um voo curto.

Não quero partir minhas asas

(como se estas asas fossem minhas!).

Detenho-me de novo nelas,

nas cores do arco-íris de que são feitas,

absorvo toda esta beleza e quero projetá-la no espaço infinito...

E nasce o medo, o pavor.

O medo de não saber voar, o medo de as partir...

Então Deus ordena-me que voe,

para isso e por isso é que tenho asas...

Continua o medo. Cada vez mais medo...

Quantos sonhos terei que abandonar,

quantos mundos para deixar,

quantas ilusões a perder...?

Arrisco um outro voo, um bocadinho mais longo

e um som intenso  penetra-me os ouvidos,

um brilho de luz ofusca-me os sentidos...

Miríades de pássaros multicores

cortam o universo a meu lado,

e mesmo assim tenho medo.

Desta vez Deus deu-me um arco e milhares de flechas.

Não me disse para quê.

mas ouvi o meu grito angustiado

a dar-me a resposta.

Tenho que voar, continuar a voar,

lutar comigo, destruir-me,

- eu que sou Arjuna no campo de batalha -

Agora começo a compreender,

a ver que o meu medo

foi (talvez seja ainda) o medo de todos esses pássaros,

de todos esses Arjunas

que comigo cortam os céus.

 

Agora compreendo

porque é que Deus me deu asas.

 

De Maria La-Salete Sá (Seminário de yoga- tema Bhagavad Gita,  Junho de 1991)

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