Ah! se eu
fora um Camões ou um Bocage,
um Pessoa ou
um Sardinha,
haveria de
cantar-te eternamente,
com um poema tão eloquente
as maravilhas
que tens e me transmites…
Tivera eu o
talento de um Garrett
com que
pudesse liricamente descrever
tuas belezas
fugidias e revoltas…
Fora eu um
Eça realista
e,
prosaicamente, narraria
aquilo que
não posso definir..,
aquilo que só
posso sentir
e resumo
nestas frases soltas…
Quantos
sonhos, quantos devaneios,
quantos
segredos, quantos anseios
terás
escutado, varanda inofensiva…
Quantos
olhares, quantos sorrisos,
quantos
pensamentos loucos e indecisos
te têm sido dirigidos?…
A quanta
tolice, a quanta amargura,
a quanta
esperança ou a quanto desespero
terás tu
assistido…
assim na
quietude de uma tarde calma,
ou no
nervosismo de um dia tempestuoso
ou sei lá…?
Quantas
ideias ridículas não inspiraste,
quantos
sorrisos não provocaste,
quantos
rubores em tantas faces não causaste
só porque…
dás abrigo e apoio
a alguém a
quem nada inspiraste?...
Não terás tu
sido infeliz na escolha?!...
Não achas que
seria melhor inverter os papéis
e esperar o
resultado?!...
Ah! Então,
sim!...
Eu queria
rir! Ah! Rir com vontade,
assim como
quem aprecia uma comédia
da qual já
sabe o fim…
Gostara de te
ver provocar sorrisos,
rubores,
ideias ridículas
e ver-te
inspirar arte e beleza
a esse alguém
que não te sabe notar.
Mas não!
Não me
julgues pretensiosa
Porque cá por
dentro até eu rio!...,
Julga-me
antes assim teimosa
como quem
teima para vencer
quando algo
quer fazer…
Seria
asneira?!
Não, talvez
não seja…
Mas só
gostaria de ver
uns dedos
trémulos e nervosos
escurecidos
por cigarros em demasia
a ler tudo o
que escrevi…
E não posso
deixar de rir
ao saber que
consegui
com que o
“tal do bigodinho”
se voltasse
um pouco para si…
E assim,
sem o mérito
dos grandes artistas,
sem a arte de
um poeta talentoso
consegui
transcrever num momento
tudo o que o
meu pensamento me ditou
de modo
harmonioso…
E aqui fico
imaginando uma expressão
de
indignação, de raiva, de sei lá o quê,
marcando o
semblante
a que uns
olhos esverdeados dão vida,
e fico-me
então sorrindo, bem divertida
desenhando na
minha mente
este quadro idealizado:
Tu, ele e o papel onde este poema
está passado!
De Maria
La-Salete Sá (23/05/1972)
imagem do google
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