sábado, 20 de dezembro de 2014

SE A VARANDA PUDESSE FALAR…

Ah! se eu fora um Camões ou um Bocage,
um Pessoa ou um Sardinha,
haveria de cantar-te eternamente,
com  um poema tão eloquente
as maravilhas que tens e me transmites…
Tivera eu o talento de um Garrett
com que pudesse liricamente descrever
tuas belezas fugidias e revoltas…
Fora eu um Eça realista
e, prosaicamente, narraria
aquilo que não posso definir..,
aquilo que só posso sentir
e resumo nestas frases soltas…

Quantos sonhos, quantos devaneios,
quantos segredos, quantos anseios
terás escutado, varanda inofensiva…
Quantos olhares, quantos sorrisos,
quantos pensamentos loucos e indecisos
te têm sido dirigidos?…

A quanta tolice, a quanta amargura,
a quanta esperança ou a quanto desespero
terás tu assistido…
assim na quietude de uma tarde calma,
ou no nervosismo de um dia tempestuoso
ou sei lá…?

Quantas ideias ridículas não inspiraste,
quantos sorrisos não provocaste,
quantos rubores em tantas faces não causaste
só porque… dás abrigo e apoio
a alguém a quem nada inspiraste?...

Não terás tu sido infeliz na escolha?!...

Não achas que seria melhor inverter os papéis
e esperar o resultado?!...
Ah! Então, sim!...
Eu queria rir! Ah! Rir com vontade,
assim como quem aprecia uma comédia
da qual já sabe o fim…

Gostara de te ver provocar sorrisos,
rubores, ideias ridículas
e ver-te inspirar arte e beleza
a esse alguém que não te sabe notar.

Mas não!
Não me julgues pretensiosa
Porque cá por dentro até eu rio!...,
Julga-me antes assim teimosa
como quem teima para vencer
quando algo quer fazer…

Seria asneira?!

Não, talvez não seja…

Mas só gostaria de ver
uns dedos trémulos e nervosos
escurecidos por cigarros em demasia
a ler tudo o que escrevi…
E não posso deixar de rir
ao saber que consegui
com que o “tal do bigodinho”
se voltasse um pouco para si…

E assim,
sem o mérito dos grandes artistas,
sem a arte de um poeta talentoso
consegui transcrever num momento
tudo o que o meu pensamento me ditou
de modo harmonioso…

E aqui fico imaginando uma expressão
de indignação, de raiva, de sei lá o quê,
marcando o semblante
a que uns olhos esverdeados dão vida,
e fico-me então sorrindo, bem divertida
desenhando na minha mente
este quadro idealizado:

Tu, ele e o papel onde este poema está passado!


De Maria La-Salete Sá (23/05/1972)


imagem do google

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